Como podem os Espíritos, em sua origem, quando ainda não têm consciência de si mesmos, gozar da liberdade de escolha entre o bem e o mal?
Há neles algum princípio, qualquer tendência que os encaminhe para uma senda de preferência a outra? O livre-arbítrio se desenvolve à medida que o Espírito adquire a consciência de si mesmo. Já não haveria liberdade, desde que a escolha fosse determinada por uma causa independente da vontade do Espírito. A causa não está nele, está fora dele, nas influências a que cede em virtude da sua livre vontade. É o que se contém na grande figura emblemática da queda do homem e do pecado original: uns cederam à tentação, outros resistiram.

Vamos por partes porque a resposta contém diversas informações.
A primeira: ‘o livre-arbítrio se desenvolve à medida que o Espírito adquire a consciência de si mesmo’. Ou seja, o espírito, no seu início, não possui livre arbítrio. Ele só está disponível quando toma consciência de si mesmo, ou seja, só quando se reconhece como individualidade.
Segunda: ‘a causa não está nele, está fora dele, nas influências a que cede em virtude da sua livre vontade’.
Inicialmente podemos até dizer que a causa do individualismo está fora do espírito. Porém, nessa resposta há uma informação importante: a causa do individualismo está nas influências a que cede. Sendo assim, podemos dizer que o individualismo não está no que acontece, mas no ceder à tentação ao vivenciar alguma coisa.
É isso que precisamos entender. O seu livre arbítrio não se trata de escolher viver isso ou aquilo, mas em se universalizar ou se individualizar em algo que acontece. Não são os fatos que possuem em si individualismo ou universalismo, mas a forma como o espírito reage a eles.
É a forma de reagir aos acontecimentos da existência que determinam o atraso ou o adiantamento do espírito. Quando ele cede à tentação de individualizar alguma coisa, foi ele que cedeu a tentação e não o acontecimento em si que causou isso. Cedendo, o ser universal afasta-se de Deus.
Mas, o que é ceder à tentação de vivenciar aquela coisa de uma forma individualista? Gostar ou não do que está acontecendo, querer ou não querer, achar limpo ou sujo, bonito ou feio.
Aplicar valores aos acontecimentos da vida: isso é ceder à tentação do individualismo.
Um acontecimento é apenas um acontecimento. Quando você aplica valores a este acontecimento é que eles passam ser bons ou ruins. Estes valores caracterizam o individualismo porque eles são individuais, ou seja, só você acredita neles.
Existem pessoas que vivenciam o mesmo acontecimento que você e não dão os mesmos valores, por isso não podem ser considerados universais. O bom ou ruim é seu valor e representa que você cedeu à tentação de dar um valor àquilo que está acontecendo.
Quando se fala aqui que a causa está fora do espírito, não quer dizer que está no acontecimento, mas sim na mente humana, no ego. É ali que o acontecimento deixa de ser apenas um acontecimento e se transforma nos acontecimentos adjetivados. São estes valores que o ego aplica ao acontecimento que estão fora do espírito e servem como influência para o ser ceder ou não à tentação de aplicar um valor a ele.
Quando o espírito cede, o valor gerado pelo ego se transforma numa verdade. É neste momento que se diz que o espírito critica.
Para ceder a esta tentação o ser universal utilizou o seu o livre arbítrio. Ou seja, Deus criou a situação e os valores externamente ao espírito e ele livremente optou entre o universalismo, ou seja, viver a realidade sem nem um valor, e o individualismo (acreditar nos valores aplicados às coisas).
Sei que o que estou dizendo é de difícil compreensão para vocês, mas uma batida de carro é apenas uma batida de carro. Se essa batida de carro é denominada como ruim ou boa, isso são apenas valores que o ego cria para a provação do espírito.
O que é uma partida de futebol? É uma partida de futebol. Agora, se ela é boa ou ruim, se você gosta ou não, se torce ou não, isso é a sua prova. Acreditar nestes valores é ceder à tentação criada pelo seu ego como uma provação.

Compartilhar